terça-feira, 30 de agosto de 2011

VOU DE 77

SOU PARAENSE DA GEMA E QUERO O TAPAJÓS - PARTE I
Por José Maria Piteira

Nasci no Pará, na cidade de Santarém – mais precisamente, na margem direita do grandioso rio Tapajós, aonde tantas vezes me banhei, pesquei e me diverti. Sou paraense da gema e me orgulho muito disso. Gosto desse sentimento de pertencer ao Pará, pois sinto que o Pará também me pertence.
Essa natividade e o duplo pertencimento – eu ao Pará e vice-versa – são sentimentos caros demais, pois fizeram brotar e crescer em mim vaidades indizíveis. Confesso: fico pávulo quando associo esses sentimentos ao nosso tão rico e variado patrimônio cultural, como os Círios da Conceição (Santarém) e o de Nazaré (Belém), o carimbó do mestre Lucindo, o violão do Moacir e a bel’arte do mestre Wilson Fonseca. E ainda há o violão do Sebastião Tapajós, que ganhou fama e é ouvido com admiração no mundo inteiro.
As riquezas naturais do Tapajós e a diversidade cultural daquele povo formado pelo entrelaçamento de tantos povos, gente que veio do Brasil inteiro em busca das riquezas da Reserva Garimpeira, renderiam narrativas especiais. As pinturas rupestres e outras marcas deixadas pelos primeiros habitantes da Amazônia, algumas com idade de mais de 11 mil anos, ainda presentes no Parque Estadual Monte Alegre, fazem-nos repensar nossas origens, nosso passado mais distante. Elas estão lá, abandonadas, a denunciar o desmazelo dos nossos governantes com tão rico e importante patrimônio da Humanidade.
E a Belém das Mangueiras, aonde cheguei há exatos 31 anos? Ah, devo muito a Belém! Aqui estudei, aqui conquistei uma profissão – aliás, duas: Jornalista e Servido Público –, aqui constituí família e ergui o pequeno patrimônio que hoje possuo. Passaria horas aqui me lembrando de coisas, pessoas e fatos que me fazem ter tanto orgulho de ser paraense, mas o espaço e o tempo não me permitem. 
Sou paraense, mas este não é apenas um registro de natividade nem um sentimento que se construa do nada. Não é fruto do destino nem privilégio do acaso, mas o resultado da construção de uma personalidade, do conjunto de oportunidades conquistadas e de resultados erguidos como troféus. Tive oportunidades, mas a maioria da minha geração não as teve. Vim para Belém em busca de estudos superiores, pois Santarém não os possuía. Vim, mas milhares lá ficaram. Quando parti, desejaram-me sorte e sucesso em uma luta da qual estavam excluídos. Histórias parecidas ouvi em Monte Alegre, Itaituba, Prainha, Alenquer, Aveiro e outros municípios por onde passei ao longo desta vida. E outras certamente são contadas em tantos lugares.

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